*
IMAGENS, TEXTOS & PRETEXTOS
Ilustrar um poema, ou um texto poético, não é necessariamente – nem deverá ser – a mera substituição do verbo pelo ícone, isto é, não é repetir em símbolos pictóricos, seja desenho, pintura ou fotografia, o que o autor das palavras já disse. É, outrossim, entrar na atmosfera que o autor criou, ou que julgamos que ele quis criar, e com a ajuda das nossas emoções, vivências e aparências, partir para a recriação de algo que, por vezes, até pode, aparentemente, contrariar o que é percebido de imediato pelo leitor. Isto exige uma leitura a dois níveis, não só no que respeita às palavras, como no que respeita à imagem. Há que saber fazer, em ambos os casos, uma leitura imediata e, depois, também de acordo com as aparências, vivências e emoções do leitor, fazer uma outra leitura mais profunda, que, por isso mesmo, pode ser diferente de leitor para leitor. O texto verbal e o texto icónico poderão ser, assim, tanto um ponto de partida, como um ponto de chegada a um outro, e novo, universo poético.
A net, com a possibilidade de fazer circular imagens de grande definição, veio provocar o renascimento da associação texto-imagem, facilitando experiências e criando um novo universo poético virtual, conquanto o possamos materializar com recurso à impressão informatizada.
Em http://www.palaciodasvarandas.blogspot.com/ fizemos várias experiências neste domínio, as quais exemplificam o ponto de vista acima referido, não só mediante «fotopoemas» (com o texto ìntegrado na foto), como através da simples aposição do texto por debaixo da fotografia. A vários autores foram enviadas, via e-mail, as mesmíssimas imagens e cada um reagiu à “provocação” de acordo com as suas pessoalíssimas emoções, vivências e aparências. Um processo contrário, portanto, ao do ilustrador de um texto.
Este processo de criação, já usado nas epopeias clássica e medieval, é, tecnicamente, denominado «Ekphrasis», ou seja, um poema, ou texto, escrito acerca de uma outra forma de arte visual, quer seja pintura, escultura, fotografia ou qualquer objecto com valor artístico. «Ekphrasis» é um termo grego que significa “descrição” e os poetas românticos serviram-se frequentemente de tal artifício, sendo um dos mais célebres a “Ode a uma Urna Grega”, de Keats.
Com recurso a fotografias minhas e de outros autores, ou a pinturas cujas reproduções encontrei na net, produzi a partir de 2005, até final de 2006, 150 «Legendas Íntimas», que sub-intitulei: «mini-textos sobre imagens-pretexto», as quais foram todas publicadas no blogue acima referido.
Seguindo o mesmo princípio, para o mesmo blogue (agora continuado em http://margensdapoesia.blogspot.com/), iniciei uma outra série de mini-textos, intitulada «Textos Transversais» (só motivados por fotografias), porque, com a experiência adquirida, podemos já teorizar que as palavras “atravessam” as imagens, dando-lhes o tal novo e outro sentido, que já estava presente em «Legendas Íntimas», palavras que mais não são do que um “atalho” para as emoções, vivências e aparências que sensibilizam e desafiam a imaginação do autor, enquanto espectador-leitor de uma qualquer fotografia.
Augusto Mota, 8 de Novembro de 2008
*
( Recordando: para uma leitura mais fácil do texto, clicar em cima da foto que abrirá em tamanho maior. )
3 comentários:
se me é permitido um beijo muito especial
reservo.o
para os textos transversais
para quem os faz
e quem os edita
então
aqui fica
o meu
.
beijo .obrigada Amigos!
um beijo, Amiga.
este blog é muito especial.
Obrigada,
mariah
obrigada....
pela gentileza...no Piano.
beijo.
Enviar um comentário