Espero a primavera.
A busca é, no entanto, vã; a procura já não existe.
A primavera virá.
Talvez quando o vento frio e forte se cansar.
Virá, sim, virá!
( Nunca falta ...)
Mas não quando foi esperada.
Quero a primavera prometida.
Fernanda s.m.
AMADOU HAMPÂTÉ BÂ.
in « Contes des sages d'Afrique » - Amadou Hampâté Bâ - Editions du Seuil
*
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
*
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
José Afonso
A ânsia da espera desbarata as emoções e não deixa viver o tempo presente que tanto amparámos entre sonhos e vigílias. A saudade do que se imaginou inventa novos pretextos para admirar a paisagem que renasce sobre o corpo da memória e a carícia das mãos.
O silêncio junta os olhares deitados sobre a planície onde outrora cavalos selvagens corriam em direcção ao mar e à liberdade. Hoje pouco se avista para além do cansaço e das intenções que desaguam nas palavras apenas murmuradas.
É Inverno, já. Sabe bem, por isso, encostar as sensações à aragem fria da tarde e esquecer o tempo que despimos das obrigações da quadra festiva. A festa, agora, é a dos sentidos que percorrem a geografia do corpo e traçam novos itinerários para a descoberta do princípio da vida. Se é a alma que procuramos, ela poderá estar na ponta dos dedos e na palma da mão onde, em tempo de sonho e júbilo, já cresceram estrelas.
Agora é nos olhos que queremos a estrela d’alva, para com ela avivar e avisar a memória de tudo quanto iludiu o espaço da viagem e das emoções.
Augusto Mota, in «A Geografia do Prazer», 2000, inédito
( tratando-se de vídeos ou slides convém desligar primeiro a música do blogue na caixa « canto das estrelas » )