21/01/2009

A Música contra a Ignorância e a Intolerância

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Neste primeiro mês de 2009, o maestro, de origem israelita, Daniel Barenboim e a Orquestra West-Eastern Divan, composta por jovens músicos israelitas e árabes, anularam dois concertos no Médio Oriente devido à situação na Faixa da Gaza.
Os dois concertos agendados para o Qatar e para o Cairo, foram adiados por razões de segurança, disse Barenboim numa conferência de imprensa em Berlim, onde é maestro titular da Staatsoper (Ópera Nacional).
Em substituição da sua deslocação ao Médio Oriente, a Orquestra Divan, sob a batuta de Barenboim, dará um concerto na próxima segunda-feira, na Staatsoper, "apesar das grandes divergências" entre os jovens músicos em torno do conflito israelo-árabe, informou o dirigente.
"Através desta actuação, e precisamente porque há opiniões diferentes na orquestra, queremos sublinhar que não há solução militar possível para o conflito e que só o diálogo pode trazer a paz", referiu Barenboim.
O maestro fez também questão de frisar que a Orquestra Divan "não é um projecto político, e sim um projecto humanista, no espírito da coexistência pacífica, e [ a Orquestra] está muito triste e horrorizada" com a situação na Faixa de Gaza.
"O destino de palestinianos e israelitas está intimamente ligado", disse ainda o maestro israelita, de 66 anos, anunciando que os músicos debaterão na segunda-feira, depois do concerto, a situação em Gaza, mas que ele assumirá apenas a posição de moderador.
Em 2008, por ocasião de um concerto da Orquestra Divan em Ramallah, na Cisjordânia, Barenboim, recebeu a cidadania honorária palestiniana, tornando-se assim a única pessoa a ter estas duas nacionalidades.
Os concertos no Médio Oriente destinavam-se a assinalar o 10.º Aniversário da Orquestra West-Eastern Divan, criada em 1999 por Barenboim e pelo professor de literatura palestiniano Edward Said, falecido em 2003.
A orquestra é formada por 120 músicos israelitas e árabes, e empenha-se a favor da paz com os meios ao dispor da música, contra a ignorância e a intolerância.
Na véspera de dirigir pela primeira vez o Concerto de Ano Novo da Filarmónica de Viena, na Áustria, Barenboim lamentou os actos de violência de Israel na Faixa de Gaza e condenou o lançamento de mísseis contra Israel pelos activistas do movimento radical islâmico Hamas.
"Compreendo que Israel não possa aceitar os contínuos ataques com mísseis contra os seus cidadãos, mas também temos de interrogar-nos se o governo israelita tem o direito de punir todos os palestinianos pelas acções do Hamas", disse então o maestro na capital austríaca.

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Daniel BARENBOIM e a Orquestra West-Eastern Divan


Fundada em 1999 pelo pianista e maestro israelita Daniel Barenboim e pelo crítico literário palestiniano Edward Said, a Orquestra West-Eastern Divan reúne jovens músicos judeus e árabes, de Israel e da Palestina e de outros países como a Espanha, por exemplo. Nascida da amizade e de um sonho que ligava estes dois homens excepcionais, ambos excelentes pianistas, a orquestra está vocacionada para promover a aproximação entre árabes e israelitas através da música. Todos os anos, no Verão, os artistas reúnem-se para um seminário que dura várias semanas, no final das quais iniciam uma muito ansiada tournée.
Nos dois primeiros anos, o seminário decorreu em Weimar, depois passou para Chicago e, em 2002, fixou-se em Sevilha. A sétima sessão de trabalho decorreu em Julho deste ano e foi seguida de uma tournée pela América Latina e a Europa. O primeiro concerto da Orquestra, que executou obras de Mozart e de Beethoven, na Margem Ocidental, realizou-se em 21 de Agosto de 2005, em Ramallah, e foi dedicado à memória de Edward Said, falecido em 25 de Setembro de 2003.




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Médio Oriente: Maestro Barenboim pede negociação incondicional entre Israel e palestinianos
O maestro argentino-israelita Daniel Barenboim defendeu, no Musikverein, em Viena, um diálogo incondicional entre Israel e os palestinianos e "o fim da conduta irracional" entre ambas as partes.
No final de um emotivo concerto da orquestra West-Eastern Divan, composta por músicos israelitas e palestinianos, na grande sala do Musikverein, Barenboim perguntou: "Por que não terminamos com esta conduta irracional e falamos incondicionalmente?".
O maestro e pianista declarou à imprensa que a solução do conflito no Médio Oriente só será possível mediante o diálogo e que o cessar-fogo entre partes iguais e a mesa de negociações são a única saída possível para israelitas e palestinianos.
Também citou os princípios da Revolução Francesa, de que deve existir primeiro liberdade, antes da igualdade e que, em último lugar, se pode falar de fraternidade.
Barenboim recordou que 55 por cento da população da Faixa de Gaza tem menos de 16 anos e que apenas existe ensino básico para os jovens naquele território.
Também exortou à reconstrução das zonas destruídas pelos ataques israelitas em Gaza e à criação de melhores condições de vida na região.
O músico sublinhou que muitos jovens que tocam na orquestra West-Eastern Divan, que dirige há alguns anos, estão carregados de ódio e de luto, mas que, apesar disso, se reúnem e tocam juntos.
Viena foi, depois de Berlim e Moscovo, a terceira etapa da digressão de Barenboim com esta orquestra, que cumpre a sua primeira década de existência e que tocou obras como a Overture n.º 3, Leonora, de Beethoven, Schönberg e a quarta Sinfonia de Brahms sob a batuta do prestigiado maestro.
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Lusa-17-01-2009 23:19:38
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Ramzi Aburedwan, tem 27 anos, é palestiniano e vive em Ramallah (Cisjordânia).A 22 de Dezembro de 2007, este jovem violetista integrava um ensemble barroco da Orquestra do Divan Ocidental-Oriental que iria fazer um concerto numa igreja católica em Gaza, sob a direcção de Daniel Barenboim. Mas, na fronteira de Erez, foi impedido de prosseguir pelos guardas israelitas, por, segundo fonte oficial, "não estar registado no nosso sistema como tendo as autorizações requeridas". O processo durou sete horas: Ramzi numa esquadra a ser interrogado, os seus colegas não arredando pé do posto fronteiriço. Resultado: a orquestra cancelou o concerto por solidariedade para com Ramzi e o programa foi tocado no dia seguinte, em Ramallah, em expressa solidariedade para com a população de Gaza. Barenboim protestou oficialmente e, com alguma ironia, afirmou: "Não me vão dizer que a segurança de Israel estava em risco?!..."
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[ após este discurso, a Ministra da Educação tomou a palavra para insultar Daniel Baremboim ( já não lhe podia retirar o prémio...) por aproveitar este momento para caluniar o Governo israelita: respondeu-lhe ele, calma e dignamente, que a verdade era mostrada pelos factos. Claro que a Ministra e seus apoiantes abandonaram a sala, enquanto outros aplaudiam. Eu vi este filme completo no canal Mezzo ]
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8 comentários:

Anónimo disse...

Que coisa, esta história que aqui nos conta, Fernanda! Parece que o mundo inteiro está tomado de loucura e, no meio da cegueira dominante, as vozes singulares da lucidez ou da generosidade mal se ouvem, custam a ouvir-se...
Um abraço

fernanda sal m. disse...

É verdade, Soledade. Tenho seguido de perto a história desta orquestra tão especial e os concertos que posso ouvir,claro, pois lembro-me de ter visto um documentário com Barenboim e Saïd, ainda a orquestra era um embrião ( e tenho seguido o "cescer" de alguns dos jovens músicos).Tem sido um trabalho desgastante e frustrante, por vezes, mas seguem sempre em frente, unidos na sua diversidade! Há muitos programas sobre eles nos canais ARTE e MEZZO, e também, raramente, na TVE.
Bom fim de semana, beijinhos.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

vou ficar por aqui com calma , há muito a ouvir a ler e ainda bem-... Gosto de Baremboim, muito...
abraço


___________ JRMARTO

Ana Ramon disse...

Olá Amiga! Ainda não tive tempo de ler todos os textos que entretanto vens publicando. Vai devagarinho.
Sempre fizeste as fatias da China para a tua rapaziada? Espero que sim e que tenham gostado.
Só passei para te dar um abraço e pedir desculpa por estas longas ausências. Mas sou como as tais estrelas :)))))
Um beijinho grande

fernanda sal m. disse...

« Váficando », Zé, é mesmo para vos colar aqui aos textos e vídeos...não lhe quero dizer « vaandando »... Estou a brincar, pois na verdade desejo mesmo que leiam estes textos e oiçam os testemunhos com muito vagar, creio que o assunto vale mesmo a pena, não acha ?
Obrigada pela visita e um abraço.

fernanda sal m. disse...

Viva, Ana ! que contente estou por aqui passares. Claro que estes textos são para ler de vagarinho e os vídeos precisam de paciência para serem ouvidos, mas tem sido um grande trabalho destes dois homens( agora só do Baremboim, pois Saïd faleceu )que merece, pelo menos, ser conhecido !
É verdade, fiz as fatias e cheguei à conclusão que são mais fáceis de fazer do que eu pensava, mas para o meu "batalhão" foi só um cheirinho..claro !São muitos...
Obrigada e demora-te por aqui o tempo que te aprouver. Beijinhos.

Anónimo disse...

Olá Fernanda
Ando a ler "O Poder da Música" ,devagarinho: uma maravilha! Às vezes gostava de saber música, para entender melhor, mas ele diz que é um livro para músicos e para os que não "sabem" música.
Beijos

fernanda sal m. disse...

Olá, caro Anónimo (??). Também não tenho formação musical, mas gosto de ouvir e ir aprendendo. E é com seres como este e outros que se vai aprendendo e dando sentindo ao que ouve e ao que nos encanta. E os livros são para ler devagarinho e ir relendo e relendo. Só assim a leitura /fruição se consente !
Beijos e obrigada pela visita.