25/04/2009

Abril dói

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Abril dói

quando abril chega e nunca mais vem
por traição por silêncio ou por vileza
o mar já não regressa e nada tem
para além de uma praia de incerteza
nada nos resta. nem sequer o vento
neste país cortado pela bruma
sem estrelas nem bússolas de frente
aves que foram caindo uma a uma

feito de palavras adormecidas e confusas
semelhante a um tempo onde ninguém se cruza
vai morrendo lentamente nas ruas
no rumor da tarde reclusa e nua


abril caminha obscuro. não vem mais.
a chuva tropeça na palavra sem projecto
quebrou-se este país antigo e puro
conduzido por homens de má fé e cegos

extinguiram-se os mares e os areais
já ninguém espera
ninguém vem honrar a terra com o rosto dos cereais
cultivam-se a troco de falsas moedas
campos de trigo
vendem-se os rios como quem vende animais

quebrado é o tempo

abril dói.
abril já foi. não chega.


nunca mais


***

poema e voz de : Maria Azenha.

4 comentários:

Adriana Riess Karnal disse...

"quebrado é o tempo", fnal lindo para o poema de Abril que se vai fechando nesses últimos dias.

Jorge D. Miguel disse...

Uma raridade de poema.
Excelente este Cd "O Mar Atinge-nos" da Maria Azenha.

Rosa Maria disse...

Gostei deste "Abril" da Maria Azenha. Lindo poema.Bjs
Rosa

Helena disse...

lINDÍSSIMO....