14/09/2009

Vive la rentrée - Chagrin d' école ( §)


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( Irlanda, 2008: alunos de uma escola, a caminho de uma sessão "à antiga", com a professora que me explicou o porquê dos fatos "domingueiros" ) (*)

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« Anuncio a Bernard que tenciono escrever um livro tendo como tema a escola, não a escola que muda na sociedade que muda (...) mas, no cerne desta incessante agitação, sobre o que não muda, justamente, sobre uma permanência sobre a qual nunca ouço falar: a dor partilhada entre o cábula, os pais e os professores, a interacção entre estas mágoas da escola.

( Israel - alunos dirigindo-se para uma escola só de rapazes ) [*
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_ Mais um livro sobre a escola, então ? Não te parece que já há muitos ?
_ Não é sobre a escola! Toda a gente se preocupa com a escola, eterna querela entre os antigos e os modernos: os programas, o seu papel social, as suas finalidades, a escola de ontem, a de amanhã...Não, um livro sobre os cábulas ! Sobre a dor de não compreender, e os seus danos colaterais

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De facto. Eu não decorava, como hoje dizem os jovens. Não compreendia nem decorava. As palvras mais simples perdiam substância logo que me pediam que as encarasse como objecto de conhecimento.

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Ah! Terríveis sentinelas, as maiúsculas ! Parecia-me que se introduziam entre mim e os nomes próprios para me impedirem de me aproximar. toda a palvra iniciada por uma maiúscula estava condenada ao esquecimento instantâneo: cidades, rios, batalhas, heróis, tratados, poetas, galáxicas, teoremas, interdição de memória em virtude de maiúscula aterradora. Alto lá, exclamava a primeira letra, não se entra pela porta deste nome, é demasiado próprio, não és digno dele, és um cretino !

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_ Em suma, inventavas histórias.


Sim, é próprio dos cábulas, repetem à exaustão a história da sua cabulice. sou um zero, nunca conseguirei, nem vale a pena tentar, estou antecipadamente tramado, eu bem vos dizia, a escola não foi feita para mim... A escola afigura-se-lhes um clube muito fechado no qual se recusam a entrar. Com a ajuda de alguns professores, às vezes.


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§ - Daniel Pennac - in « Chagrin d'école » - Mágoa da escola - Porto Editora.


fotos: fernanda s.m.



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Ver mais em : http://matebarco.multiply.com/photos/album/224/224

2 comentários:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

~Fernanda , só conheço de Pennac , » ler como um romance , »mas o excerto deste livro , despertou-me a »curiosidade», porque conheci muitos cábulas , não sei por que razão nunca consegui copiar , me socorri de expedientes que tivessem como objectivo ludibriar
Deve ser triste , encontrar barreiras em tudo o que a escola ensina , cultiva ...
Embora consciente deste problema , às vezes só a escrita literária, nos sobressalta ...
Abraço
_________ JRMARTO

fernanda sal m. disse...

Este livro é muito curioso e, como sempre, o discurso bem humorado, mas totalmente consciente, de Daniel Pennac, confere-lhe o lado real vivido. Recomendo-lhe, do mesmo autor, "Aux fruits de la passion". Deve estar traduzido, já. Quando o comprei, há largos anos, em Paris, ainda não havia tradução portuguesa, mas na língua original é um portento ! Há livros que nunca deviam ser traduzidos, mas ...
Um abraço, José, e bom feriado.