02/02/2010

Está tudo ligado - Goethe, Ginco Biloba e o Divã Ocidental-Oriental.

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Ginco Biloba


Dieses Baums Blatt, der von Osten
Meinem Garten anvertraut,
Gibt geheimen Sinn zu kosten,
Wie's den Wissenden erbaut.

Ist es ein lebendig Wesen,
Das sich in sich selbst getrennt?
Sind es zwei, die sich erlesen,
Dass man sie als eines kennt?

Solche Frage zu erwidern,
Fand ich wohl den rechten Sinn:
Fühlst du nicht an meinen Liedern,
Dass ich eins und doppelt bin?
J. W. Goethe

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A folha desta árvore que de Leste
Ao meu jardim se veio afeiçoar,
Dá-nos o gosto de um sentido oculto
Capaz de um sábio identificar

Será um ser vivo apenas
Em si mesmo em dois partido?
Serão dois que se elegeram
E nós julgamos num unidos?

Pra responder às perguntas
Tenho o sentido real:
Não vês por meus cantos como
Sou uno e duplo, afinal?

Notas:

A 15 de Setembro de 1815 escrevia S. Boisserrée no seu diário:- « Goethe tinha mandado da cidade a Frau Willemer uma folha de Ginkgo Biloba como símbolo da amizade. Não se sabe se é uma que se divide em duas, ou duas que se unem numa. Era este o conteúdo dos versos ».
Assim nasceu a estância intermédia do poema, alargado pouco depois para a forma definitiva em Heidelberga, donde o poeta a enviou a Rosette Städel, filha de Willemer, e, evidentemente, a Marianne.
A primeira estrofe, resultante de uma conversa com Creuzer sobre o duplo significado dos mitos gregos, exprime exactamente a interpretação recôndita que os iniciados dão a todos os mistérios. A última, finalmente, responde às perguntas da segunda e dirige-se a Marianne. Unidade e duplicidade - no amor que une os amantes; unidade e duplicidade também - nas próprias canções do livro que o poeta invoca como testemunhas, ao tempo só compreendidas para Goethe e Marianne, pois só eles conheciam o segredo de que várias eram da autoria dela.


J.W.Goethe (1749-1832) - POEMAS - Antologia, versão portuguesa, notas e comentários de PAULO QUINTELA - Por ordem da Universidade, 1949.
foto de Augusto Mota
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A paixão por Marianne von Willemer inspirou-lhe "O divã ocidental-oriental", volume de poesias eróticas e filosóficas, cheias de paixão violenta e de anticristianismo decidido. São os poemas mais belos que Goethe escreveu.

São os anos em que Goethe conversava diariamente, sobre todos os assuntos possíveis, com o seu secretário, Johann Peter Eckermann (1791-1854), que publicou em 1837 essas notas sob o título de "Conversações com Goethe", obra da mais alta sabedoria, revelando também o interesse do poeta pelas novas tendências literárias e seu ideal de uma comunidade literária de todas as nações.


Mas... « TUDO ESTÁ LIGADO ».
Oiçamos agora Daniel Barenboim.

« (...) Fomos [ Barenboim e Said ] buscar o nome do nosso projecto, O Divã Ocidental-Oriental, a uma colectânea de poemas de Goethe, que foi um dos primeiros europeus a interessar-se verdadeiramente por outras culturas. Descobriu o Islão quando um soldado alemão que tinha combatido numa das campanhas espanholas trouxe consigo uma página do Corão para lhe mostrar. O seu entusiasmo foi tão grande que começou a aprender árabe aos sessentas anos de idade. Mais tarde descobriria o grande poeta persa Hafiz e foi ele a inspiração para a sua colectânea de poemas que têm por tema a ideia do outro, o Divã Ocidental-Oriental, publicado pela primeira vez há quase duzentos anos, em 1819. (...).
Os poemas de Goethe tornaram-se um símbolo da ideia sujacente à nossa experiência de juntar músicos árabes e israelitas. Essa experiência teve início em 1999 em Weimar, o que reforça ainda mais a justeza de dar à orquestra o nome da colectânea de poemas de Goethe. »

Daniel Barenboim - « Está tudo ligado - O Poder da Música » , Bizâncio.
Rever:
música contra a ignorância e a intolerância

10 comentários:

rosa maria disse...

Lindo trabalho,Fernanda
Confirma que tudo está mesmo ligado...
Beijos

dade amorim disse...

Em suma, literatura, e poesia em particular, tudo podem porque (quase) tudo sabem. Um grande post, Fernanda.
Beijios.

eli disse...

Quando a noite de manso se avizinha, bálsamo me foi este magnífico post - tudo ligado está. Vero!

Bj-e

fernanda sal m. disse...

Eli, outra coincidência: este seu comentário que agradeço, "cruzou-se" , algures com o mail que acabei de lhe enviar...!

Que a noite que se avizinha nos cubra de manto leve e radioso.
Bom fim de semana.
Abraço amigo.

fernanda sal m. disse...

Rosa,ainda bem que gostou. Fico contente. Surgiu-me a ideia por coincidências de leituras que ando a fazer...
Bom fim e semana e beijinhos.

fernanda sal m. disse...

Adelaide, obrigada pela sua visita e pelas suas palavras. Acredito, também que o poder da música e da poesia, da cultura, enfim, possam vencer onde a política edos homens tem falhado.
Bom fim de semana.
Beijos.

rendadebilros disse...

Está mesmo tudo ligado... mas nós raramente percebemos... obrigada por este post.
beijos.

zef disse...

De biloba só sabia de comprimidos que atalham falhas de memória...
Agora sei um poema...
Beijos, Fernanda.

fernanda sal m. disse...

Renda, arredada um pouco deste espaço, só agora tive tempo para lhe agradecer as palavras e a visita. Nada existe por acaso, pois não ?

Beijos, amiga.

fernanda sal m. disse...

Zef, quanto a falhas de memória, elas já são tantas que nem a biloba me safa...

Mas gosto destas coincidências ( ou não..., creio pouco em coincidências...) que nos vão chamando à realidade.
Pouco tempo para andar por aqui, mas sempre com gosto.
Beijos e boa semana.