*
Agressivas são as nuvens de tão rutilantes, entre sol e chuva.
Surgem delas aves que volteiam, livres.
Invejo-as.
Ofereço-lhes o tudo que as minhas mãos guardam para que o levem com elas para o infinito, para a eternidade.
Mas livres, tontas de liberdade e de espaço, as aves nem dão por mim.
Seguem. Seguem outro destino...
Recolho nos braços uma certa ternura que deixaram pairando no ar.
E espero.
É o cansaço da vida, esperar.
Esperar, olhando o mar, olhando o céu.
Nesta espera me consumo e me alento.
******
Rumo a ti, mar, e banho os olhos no azul salgado da tua água.
Deixo que passes as tuas ondas frescas sobre a minha cabeça.
Reabro os olhos e vejo-me perdida na tua eterna imensidão.
*****
És o eterno sobrevivente do cosmos.
Atrais e recolhes as estrelas cansadas de brilharem no manto da noite.
E, nesta manhã, encostada à brancura da minha janela, olho a serena força com que reconstróis a vida.
Reconstróis as rochas que banhas e o areal que para ti se estende.
Recrias as manchas de cor diversas que fazes bailar.
Reinventas o som, ora manso, ora feroz das tuas águas.
E eu sou sobrevivente, também.
Mas inerte e atónita.
Como os barcos cuja faina foi
bruscamente interrompida
e no areal ficaram sem jeito nem reconstrução.
À espera.
texto e foto de fernanda s.m.
2 comentários:
Leio sempre com muito prazer tudo o que escreves.Em cada teu novo poema nota-se um maior trabalho das palavras tão profundamente sentidas.Continua,amiga.E publica.Um beijão.
Rosário
Obrigada pelo incentivo.
Às vezes é difícil "dizer"....
Beijo.
Enviar um comentário