28/08/2012

« É uma casa tão grande a ausência »

*
 
 
 
Se morrer, sobrevive-me com tanta força pura
que despertes a fúria do desanimado e do frio,
de sul a sul ergue os teus olhos indeléveis
que, de sol a sol ,soe a tua boca de guitarra.
 
Não quero que vacilem o teu riso, nem os teus passos,
não quero que morra a minha herança de alegria,
não chames ao meu peito, estou ausente.
Vive na minha ausência como numa casa.
 
É uma casa tão grande, a ausência,
que passarás nela através  das paredes
e no ar suspenderás os quadros.
 
É uma casa tão transparente, a ausência,
que eu, sem vida, te verei viver
e se sofreres, meu amor, voltarei a morrer.
 
Pablo Neruda   in  “ Cien  Sonetos de Amor” - Soneto XCIV.
       foto de fernanda s.m.


Sem comentários: