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Lamento
Para a
Fernanda Sal Monteiro
Que metáfora, como onda solitária, varre o
areal da madrugada, mesmo antes de as primeiras pegadas anunciarem as viagens
para sul?
Que onda solitária, como metáfora, varre o
areal da memória, mesmo antes de as primeiras viagens para sul anunciarem as
primeiras pegadas?
Tristes lamentações estas de fim de Verão,
quando as viagens já são sem retorno e não deixam na areia da vazante rasto que
nos possa ensinar o caminho de regresso a casa!
Assim, mais vale rumar a norte e esperar que
os ventos propícios nos refresquem os olhos, enquanto as águas mais frias nos
avivam a memória de tudo o que ainda há para fazer: seja adormecer ao som da
lua nova, à beira-mar, seja acordar ao som dos primeiros raios de sol, à beira
das fontes que alimentam o rio, como se alimentassem a vida.
Vamos, pois, lavar as mãos nesta corrente fria
que nos atravessa a garganta e, com elas ainda húmidas, escrever no areal da
memória a metáfora solitária da despedida.
Augusto Mota, inédito, in
"Geografia do Prazer", 2000
1 comentário:
Muito bonito!
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