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... nascia, assim, a "estrela-da-madrugada", sob o signo da camélia...
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Hoje, espreita por entre os ramos de uma amendoeira para apreciar uma sua flor, presente que lhe ofertaram, e olhando-a, deixa-se levar pelo sonho!
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Flor de Amendoeira (Prunus amygdalus dulcis) - foto de Augusto Mota
A lenda das amendoeiras em flor
Dos reinos árabes do sul da Ibéria, o mais ocidental, o Al-Gharb, tinha a sua capital em Xelbe, opulenta cidade, próspera e fortemente fortificada nas margens do rio Arade, porto seguro para o comércio que a partir da foz subia o rio, vindo do norte de África. A imponência das muralhas, de pedra vermelha, tiravam o ímpeto de conquista a quem as contemplasse, tal o seu aspecto magnífico, altos muros serrilhados de grossas ameias, cortados por torres de vigia e barbacãs envolventes, escondiam a beleza de jardins frondosos e fontes de água corrente que emprestavam frescura ao calor do sol escaldante do meio-dia. Centro de cultura e arte, mãe de poetas e escritores, as suas ruas e a beleza das suas casas atraía muitos homens de negócios para o prazer e alegria; viviam felizes os habitantes da esplendorosa e forte Xelbe, o Islão era rei e senhor desta região. Reinava Ibn-Almundin, jovem e guerreiro, amante das artes e da beleza. Amiúde, saía com os seus guerreiros para manter afastadas as ameaças de vizinhos e invasores. Numa dessas surtidas fez prisioneiro um barco do norte da Europa com os seus ocupantes, homens fortes e de aspecto titânico, loiros e de tez branca. Uma princesa acompanhava-os, de nome Gilda. Longas tranças da cor do sol caíam sobre os seus ombros, o azul dos seus olhos rivalizava com a cor do céu do Al-Gharb, limpo de nuvens e luminoso. Impressionado com tamanha beleza ficou o jovem príncipe que de amores se tomou. No castelo, mandou apartar dos prisioneiros a bela cativa e pô-la no Paço ao seu serviço. O tempo se encarregou de os unir em casamento. Feliz andava o príncipe com a sua amada e, mais uma vez o tempo se encarregou de toldar os olhos, outrora tão luzentes, em saudoso olhar na vastidão do horizonte. Angústia dominava o espírito do jovem que de tal saudade nada sabia. Pediu auxílio a um dos compatriotas da bela esposa, que lhe disse estar esta saudosa dos campos brancos de neve do seu País.Trazer a neve para tal paraíso era impossível, dominava o sol e as temperaturas eram amenas; um pensamento repentino fez-lhe brilhar o rosto, cujo sofrimento deixara marcas, plantar amendoeiras pelos campos em volta do castelo até onde a vista abrangesse. Floriam estas na primavera e os campos ficavam manchados de branco. Ao resplandecer de um dia primaveril o jovem príncipe conduziu a sua amada para a varanda do palácio e até onde a vista alcançava os campos estavam plenos de branco. Luz e felicidade irradiou do belo rosto e a chegada da primavera era de regozijo pelo despontar das amendoeiras em flor, branqueando os campos de Xelbe, debaixo do céu azul, iluminado pelo sol. Romântica lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal! Alma Lusa Xelbe, a pérola de Chencir, é o nome árabe da cidade que hoje é conhecida como Silves. Foi, ao tempo do Algarve islâmico, a principal cidade do Al-Gharb, bela e culta. Foi conquistada em definitivo pelos cristãos em 1189 por D. Sancho I, rei de Portugal.Al-Gharb, significa em árabe, o ocidente, derivou para Algarve em português. O Algarve foi conquistado em definitivo para o reino de Portugal por D. Afonso III em 1249, com a tomada de Faro, actual capital da província. Foi sempre reconhecido como reino independente, mas sem autonomia; os reis de Portugal intitulavam-se de Rei de Portugal e dos Algarves.
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"Tempo da Lenda das Amendoeiras"
« Rimance da princesa do país dos gelos que em terras de moirama suspirava, contado em louvor da fantasia dum povo que nasce,vive e morre entre o céu e a água.
(...)
« Rimance da princesa do país dos gelos que em terras de moirama suspirava, contado em louvor da fantasia dum povo que nasce,vive e morre entre o céu e a água.
(...)
A Princesa
Ai portas do meu silêncio.
Ai vidros da minha voz.
Ai cristais da minha ausência
da terra dos meus avós
desatavam-se em soluços
os seus cabelos desfeitos.
(...)
Ai vidros da minha voz.
Ai cristais da minha ausência
da terra dos meus avós
desatavam-se em soluços
os seus cabelos desfeitos.
(...)
O Rei
Dizei-me magos oragos
anões duendes profetas
adivinhos e jograis
sagas videntes poetas
como hei-de secar o pranto
daqueles olhos de rio
como hei-de calar os ais
daquela boca de estio
como hei-de quebrar o encanto
que numa tarde de pedra
talhada pela tristeza
selou com dedos de chumbo
o sorriso da princesa
que suspira pela neve
da ponta do fim do mundo.»
Ary dos Santos, in « Tempo da Lenda das Amendoeiras ». Lisboa, 1964.
anões duendes profetas
adivinhos e jograis
sagas videntes poetas
como hei-de secar o pranto
daqueles olhos de rio
como hei-de calar os ais
daquela boca de estio
como hei-de quebrar o encanto
que numa tarde de pedra
talhada pela tristeza
selou com dedos de chumbo
o sorriso da princesa
que suspira pela neve
da ponta do fim do mundo.»
Ary dos Santos, in « Tempo da Lenda das Amendoeiras ». Lisboa, 1964.
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A tua voz na primavera
Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios húmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!
Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!
Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...
Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!
Florbela Espanca.
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Mais perfumadas,
só porque alguém as olhou
e as foi colher,
assim são aquelas flores __
tão belas e passageiras.
Isumi Shikibu - in « Tanka séc. IX a XI » versão portuguesa de Luísa Freire - Assírio & Alvim.
15 comentários:
Hoje é um dia especial aqui , por isso um grande abraço para si , Fernanda...
Muitas estrelas da madrugada nos olhos e em flor é o que lhe desejo...
Abraço
________ JRMARTO
Parabéns pela Estrela da Madrugada e um abraço para si,Fernanda
Rosa
Rosa e José ! Muito obrigada, mas, já sabem, a "estrela-da-madrugada" só vive pelos Amigos que a visitam, a apoiam e que com ela têm colaborado. Por isso, conto convosco para continuarem a acarinhar como vêm fazendo ...
E estamos a entrar na Lua Cheia...!
Um grande abraço.
Das ocorrências astronómicas, talvez sejam as SUPERNOVAS as mais importantes para a moderna ciência. A explosão de uma supernova emite uma luz milhares de vezes mais forte que a normal e é nesse momento que uma intensa onda de luz em torno dela se distanciará e, como num tsunami, formar-se-á uma lâmina de radiação cósmica que varrerá o espaço, iluminando o material inter-espacial "até então invisível aos instrumentos", mas dependendo da sensibilidade das lentes dos modernos telescópios espaciais, o rastos dessas lâminas poderão ser monitorizados durante séculos.
Estava à espera da respectiva “explosão” da minha “supernova-floral”, para, com o meu telescópio ultra-sensível, seguir a onda de luz que varreria o espaço cósmico e, assim, poder enviar-lhe nova imagem, a condizer com o dia de hoje. Os afazeres de um astrónomo amador goraram os melhores intentos. Mas aqueles estames e aquelas pétalas são já um prenúncio de um abraço para muitas primaveras renovadas, que, segundo os técnicos, poderão ser monitorizadas durante muitos e muitos anos.
AUGUSTO MOTA
Mais tenho que lhe agradecer, para além da foto que ilustra o aniversário da "estrela" a explicação técnica que, tão sabiamente nos dá sobre o que é uma SUPERNOVA ! Ainda bem que não tive tempo de "alinhavar", ontem, a explicação que pretendia explicar a metáfora floral: ficaria incompleta e sem a graça poética da sua ... Assim, obrigada pela oferenda da foto e pela sua preciosa contribuição para comemorar estes dois aniversários num só - o meu e o da "estrela-da-madrugada". Um abraço amigo!
Bom, desculpem o pleonasmo sem graça nenhuma "a explicação que pretendia explicar"... foi da emoção de tanta comemoração - agora rimou, sem intenção...
Bom, fiquemos por aqui; é o melhor !
Um feliz aniversário à estrela da madrugada e à Fernanda que a habita...
Beijo
ana assunção
Olá, Ana !
Muito obrigada pela visita e pelos votos. Apareça sempre, gosto de a ver por aqui. Venha iluminar a "estrela".
Um grande abraço!
Cá vem vindo a Primavera, Fernanda, uma estrela matutina, uma flor de amendoeira, uma esperança, uma claridade...
Longa vida a este belíssimo blogue e um abraço de parabéns para si. Que aqui venhamos no próximo ano, beber da mesma alegria.
Parabéns pela estrela da madrugada
e um beijinho de alegria.
maria azenha
estavas inspirada,que beleza de história..e os poemas,ah...doces!
Soledade, Maria Azenha, Adriana, obrigada pelas vossas palavras amigas e alegres. Fico contente quando me vêm espreitar na estrela da madrugada, tão sempre a primeira no céu e tão brilhante graças a vós !
Beijos.
parece que sim, Fernanda
hoje
Um raio de sol
acordou o pássaro
rasgou a manhã.
trouxe-me, por fim, tempo para fruir tudo o que de belo por aqui se vai fazendo e, mais importante ainda, deixar um forte abraço de amizade
eli
Parabéns (ainda em Março... eh eh eh ); a sério: parabéns a esta Estrela da Madrugada!
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abraço,mt
nunca é tarde para deixar um beijinho de parabéns
( registado / perdoado / o atraso )
será que sim
ou será que não?
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um beijo ,Fernanda
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